quarta-feira, 23 de junho de 2010

Meu querido irmão...


A única certeza que temos na vida é que um dia todos passaremos. Uns vão antes, outros depois. Aprouve a Deus levar meu irmãozinho, nosso caçula, antes de todos nós.


Não há outra explicação lógica além de que essa foi a vontade de Deus. Sei que muitos, inclusive eu, sentem-se culpados, parece que todos querem trazer para si um pouco da responsabilidade. "Se ao menos eu tivesse dormido com ele...", "Se eu tivesse acordado mais cedo...", "Se eu tivesse ligado..." - Não há "se", meus queridos, tão queridos. A partida do meu irmão foi tranquila. Nós, na nossa visão tão limitada da coisa, tentamos detê-lo, tentamos fazê-lo voltar, depositamos nossas esperanças nas mãos daqueles bombeiros que tentaram desesperadamente trazê-lo à vida, mas ali ele já não era. Ali ele já havia partido. Deixando-nos, é claro, com uma dor e com uma saudade que não são traduzíveis em palavras, por mais belas que sejam. Deixando-nos o desespero e a descrença. Mas esses são sentimentos nossos, humanos, carnais, limitados. Se pudéssemos ter a visão do todo... Se pudéssemos ver o que nos escapa à vista, ao material, provavelmente sorriríamos, em vez de chorar. Se nos esforçarmos um pouco, veremos que Deus nos deu o Lucas por um prazo determinado, e, quando esse foi chegando ao fim, providenciou para que sofrêssemos o mínimo possível diante de tal fatalidade.


Por que tão cedo? Ontem, quando fui com meu pai ao cemitério, passando pelas lápides, vi a de um menino que faleceu aos nove anos. Vi a foto dele: bonito, sorridente, brincando. Pensei na dor da família, na dor dos pais, de perderem um filho tão cedo. Deus nos deu o dobro. Sejamos gratos.


Por que dessa maneira? Lembrei-me dos meninos de Luziânia, brutalmente assassinados após um abuso sexual. Lembrei de um amigo que, aos doze anos, perdeu dois irmãos de uma vez, em um acidente de carro. Deus deu ao meu irmão uma morte linda. Ele não sofreu, ele não acordou. Estava perfeitamente enrolado nas cobertas, sem qualquer sinal de sofrimento. Temos todo o resto da família para amar e cuidar. Sejamos gratos.


Por que em casa? Por que não no hospital? Para que nós (Mateus, eu, meu pai, minha mãe) pudéssemos ter a certeza e pudéssemos nos preparar. Por instantes houve esperança, vivenciamos todo o processo. Imagine chegarmos ao hospital para visitá-lo e assim do nada, recebermos tão horrenda notícia? Sejamos gratos.


Agradeço a todos os que estiveram presentes no velório e que, acima da própria dor, procuraram confortar-nos e tornar aquele momento mais marcante e especial. Agradeço aos amigos que musicaram a letra que fiz, agradeço ao Juninho por puxar o hino do Flamengo, aos amigos que "batatearam" o túmulo após o sepultamento. Agradeço ao meu marido pelo amor e cuidado constantes, e por amar minha família como ama a própria, o mesmo vale para meu cunhado. Agradeço aos que tem enchido minha casa todos os dias, tentando, aos poucos, arrancar nossa dor. Agradeço ao Guilherme e ao Filipe por tocarem ontem à noite. É nas risadas e na música que sinto meu irmão mais perto. Quando tudo fica quieto, eu sofro mais. Agradeço a todos os irmãos da Igreja, que tem carregado esse fardo conosco. Agradeço a meus empregadores, pela compreensão em driblar todos os transtornos que minha ausência tem gerado. E agradeço a Deus por ter nos permitido 18 anos de convivência feliz com o Lucas, e por tê-lo levado em um momento tão especial, quando todos nos sentíamos tão ligados a ele. Agradeço e Deus porque não há remorsos e não há coisas não-ditas.


E o que cabe a nós, agora, é seguirmos vivendo. Por agora isso é um sacrifício. Por agora sentimos dor até mesmo quando temos relances de alegria. Mas creio que a cada dia um pouquinho dessa dor é tirada. Creio que chegará o dia em que as lágrimas estarão secas, e nos restará mais felicidade pelas boas lembranças e saudade. Creio que chegará o dia em que Alice correndo por essa casa enquanto a Ju carrega um barrigão de grávida nos fará sorrir sem dor. E creio que isso é o que meu irmão mais adoraria ver: nosso sorriso, sem esquecer que tudo seria mais lindo se ele estivesse presente.


E aproveitemos essa preciosa lição para nos amarmos ainda mais, se é que isso é possível. E fico agora imaginando como o Bob correu para encontrá-lo, derrubou-o no chão e quantas lambidas deu nele quando o reencontrou, e como será maravilhoso o dia em que nos reencontraremos e a família estará, novamente, completa. Quanta felicidade haverá nessa reunião!


Ao meu irmão, todo o meu afeto e a dor do meu coração partido. À minha família, o mais profundo desejo de que reconstruamos o mais rápido possível nossa rotina e nossa felicidade. Aos meus amigos e aos amigos do meu irmão, a gratidão porque vocês também são família. À Igreja, que Deus continue dando a vocês essa graça maravilhosa de amar ao próximo mais do que a si mesmo. À Raquel, toda a força para passar por esse momento e viver a vida linda que meu irmão ia querer pra você.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O trabalho dignifica o homem

Essa frase é um ditado popular e, como todos eles, repetido como um mantra quando alguém não quer trabalhar ou não gosta do que faz. Dizê-lo atribui ao trabalho um significado bem mais amplo do que simplemente "pôr comida em casa" ou "poder comprar minhas coisas". Ignora-se, um pouco, o aspecto Capitalista-Produtivo do trabalho e confere-se ao trabalho a cracterística de fazer de quem o executa, qualquer que seja ele, uma pessoa melhor.

A visão positiva do trabalho, entretanto, é relativamente recente. No mundo pré-Revolução Industrial, o trabalho era coisa de subalternos e escravos. Os nobres dedicavam-se, sim, ao "ócio produtivo", mais especificamente, pensar. Ninguém os acordava cedo perguntando: "E aí, não vai fazer nada de útil da sua vida, não?", pois o fato de ele estar vivo já era muito útil. As mocinhas dividiam seu dia entre bordados, lições de piano, longas pestanas na rede. As senhoras davam ordem a seus escravos/empregados e supervisionavam o andamento da casa, preocupando-se apenas com seu marido chegar em casa e encontrar tudo bem organizado.

Se o trabalho como algo necessário a todos e dignificador da sociedade é tão recente, posso, sim, dizer sem o mínimo pudor que não gosto de trabalhar. Simples assim. Não é que eu não goste do que faço, eu gosto de dar aulas e, modéstia à parte, sou uma professora muito boa. É que realmente acredito que qualquer coisa, se recebe o nome de trabalho, fica desagradável. É sério! Eu adoro ler (formada em Letras, era de se esperar), mas se alguém me oferecesse um salário para ler, sei lá, dez livros por mês, provavelmente no início seria o paraíso, mas logo se tornaria um suplício por ser trabalho.

Mas e aí, Elisa, que que você quer, então?

De verdade? Quero que meu marido passe em um bom concurso, em que ele receba um salário decente para manter nossa família e que eu possa ser como as mulheres de outrora: cuidar da minha casa, educar meus filhos. E fazer o que amo, dar aula, como um prazer e não como uma obrigação.

Sonhar não custa nada...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Casada e futura mamãe

Hoje um aluno querido, Adriel, me disse ter entrado no meu blog e adorado todas as postagens. Aí eu me lembrei desse espaço, criado meio por pirraça e e tão utilizado para tantas coisas. Achei lindo reler certas coisas, como os mil planos para o meu casamento, que foi absolutamente perfeito e como sempre sonhei. Meu marido é ainda melhor do que eu esperava. Nossa vida a dois é tranquila e deliciosa, com a estabilidade que sempre quis. E agora, para completar nossa felicidade, há um herdeiro a caminho. Me vejo mãe, com um futuro pai formidável a meu lado. Nossa felicidade é plena!

Resumindo sete meses em sete linhas, é basicamente isso. Tentarei ressuscitar esse espaço gostoso, mesmo que seja só para o Adriel ler, hehe.